A Arte de Fotografar a Preto & Branco
v o l u m e
#11
a u t o r e s
Alexandre Marques, Alexandru Crisan, Bruno Guerreiro, Carlos Costa, Carlos Martins, Erik Schottstäedt, Francisco Martins, João Ribeiro, José Luís Coelho Borges, Lauro Benvinda, Paulo Camelo, Paulo Semblante Mendes, Raúl Silva Pereira, Rui Luz, Stefan Neagu
e d i t o r
José Godinho
d e s i g n
marcvaz.com
e d i ç ã o
Fevereiro 2023
i m p r e s s ã o
Europa
i s b n
978 989 53554 9 5
Prefácio
Longe vão os tempos em que a fotografia a preto e branco era simplesmente a opção tecnologicamente possível. A fotografia mais do que uma arte, é para o fotógrafo uma paixão, mas a fotografia a preto e branco é certamente uma paixão com um intento diferente. Não uma moda mas sim um sentimento, ou então deixaria de fazer sentido.
Numa época onde a captação e imagens está de tal modo vulgarizada, e compartilhamos massivamente registos da nossa vida quotidiana onde a cor é claramente predominante, é um privilégio poder manusear uma publicação singular como esta onde o trabalho de 15 fotógrafos, que dão preferência ou tem como escolha pessoal a fotografia a preto e branco, é apresentado como uma manifestação estética do seu pensamento.
Há quem considere a fotografia a preto e branco sem emoção, pouco impressionante ou até limitadora. Há ainda quem considere que os fotógrafos usam o preto e branco para “salvar” fotografias menos bem conseguidas ou que a fotografia de paisagem tem que ter cor!
Apresentar uma fotografia, seja de que tema for, em preto e branco ou a cores é uma escolha, uma opção artística e estética do seu autor, não uma tendência ou uma limitação.
Considero que a fotografia a preto e branco explora mais a capacidade criativa onde a composição é ditada pelo equilíbrio da luz e das sombras, pelos volumes pelos planos, pela capacidade de compor no abstrato e no caos. Ter a capacidade de isolar uma emoção, um assunto ou um movimento, mesmo quando olhamos para algo e vemos por acréscimo uma quantidade de outras coisas, permite-nos levar ao espectador essa emoção e o sentimento de uma forma verdadeira, deixando espaço para a imaginação e para uma interpretação mais conceptual da obra.
O cérebro humano reage ao contraste e às diferenças bem marcadas entre coisas. A fotografia a preto e branco tira partido disso mesmo conseguindo criar a partir da realidade policromática um registo intensamente emotivo, convencional ou não, com simetria ou assimetria, com dramatismo e contraste mas com o equilíbrio, ou desequilíbrio propositado, necessário para suscitar reações emocionais onde se dá destaque à estrutura formal da cena.
Com as câmaras digitais atuais temos a possibilidade de fotografar logo em modo monocromático e assim ver instantaneamente um registo em escala de cinzas muito próximo do resultado final. Mas será que o devemos fazer ou devemos treinar e educar a nossa capacidade de compor mentalmente uma imagem a preto e branco, uma imagem pensada e criada na mente do fotógrafo numa conceção diferente do que os nossos olhos veem!? Fotografar a preto e branco requer por isso a capacidade de “pré-visualizar” a imagem emergente, antes de qualquer manipulação ou edição.