A química e nada mais do que a química. Recuando pouco mais de cem anos no tempo, o extravio da cor quando, pela fotografia, se imortalizava um momento, era uma inevitabilidade dos elementos naturais, dos haletos e betumes que “aprisionavam” a luz numa emulsão. Porém, o preto e branco, pela sua distância da colorida realidade, forçava então uma intuição a quem olhava a fotografia como se a imagem nela contida tivesse por si uma personalidade. Talvez por isso, mais de um século depois, o fotógrafo continua a ver na ausência da cor uma forma de criar submundos que a realidade nos esconde. Já não é a química, mas sim a emoção que nos atrai para a entrega de um momento cuidadosamente escolhido à infinidade de uma fotografia de uma forma que a distinga do que é real. A fotografia a preto e branco larga-nos um feitiço, obriga-nos a ver o que os olhos não veem, cria-nos um mundo que não existe em mais lado nenhum.
Quem fotografa raramente consegue escapar ao fascínio de, aqui e ali, testar a realidade sob a luz nua de cores que crie o tal mundo que apenas pode existir numa imagem fotográfica. E esse tem sido o grande desafio proposto por este projeto, “A Arte de Fotografar Preto & Branco”, cujo volume 4 é uma reafirmação do sucesso do repto que em pouco mais de um ano conseguiu reunir já 60 fotógrafos. Este quarto volume traz-nos, mais uma vez, a visão de 15 autores distintos, que sob o fio condutor da fotografia a preto e branco partilham visões singulares, que vão do artístico ao documentário, da paisagem à arquitetura e do retrato ao imaginário. São vários mundos contidos num livro para ver e rever e que nos amontoa de provocações visuais que nos invocam o instinto e o encanto.